Uma Jornada Implacável: Explorando a Complexidade Emocional e a Narrativa Arrojada de The Last of Us Parte 2
Em meados de 2013 a Naughty Dog nos presenteou com The Last of Us, e logo se tornou um dos melhores jogos já feitos, recebendo muitas notas máximas e se tornando Game Of The Year de 2013 , eu mesmo acho o melhor jogo da 7° geração, por isso o hype em cima da continuação era mais que justificado, após vários adiamentos, no dia 19 de junho o jogo foi lançado, em meio a vazamentos e muitas polêmicas, vou analisar pra vocês se The Last of Us parte 2 atende as expectativas.
Neil Druckmann, diretor e roteirista desse novo jogo, já tinha declarado que The Last of Us 2 giraria em torno de vingança e ódio,e é realmente boa parte do que o jogo entrega, e ter jogado o primeiro é fundamental para que sentimentos no segundo façam mais sentido.
Começarei direto pelo ponto forte do jogo e também o mais polêmico o enredo, tudo que vimos no primeiro se repete aqui, só que com mais capricho, mais cenas, mais história, mais interpretação, tudo correndo bem sem perder o ritmo ou cansar o jogador, essa continuação foi construída para levar o emocional dos jogadores a outro nível, vou deixar pra comentar mais no final dessa analise contendo spoilers, então se não jogou fique longe dessa parte!
Tudo começa quatro anos após o final do primeiro, com Joel e Ellie morando na vila de Tommy, irmão de Joel, e Maria sua esposa e líder do local, logo no início já intercalamos entre as duas personagens principais, Ellie e Abby, contando a história de perspectivas diferentes e com leves mudanças na jogabilidade, e o restante do jogo também segue assim, intercalando entre ambas, com o objetivo (muito bem alcançado) de mostrar os dois lados da história.
Um pouco mais de um mês ante do lançamento, provavelmente o motivo do lançamento ter sido marcado pra junho, aconteceu um vazamento com pontos chaves da história sendo revelados, e realmente o que vazou e pude confirmar, sim prejudica muito a experiência do jogo, cenas se tornam menos impactantes se já sabe o que acontece, então fiquem longe de spoilers, e com esses vazamentos começou a polêmica sobre o enredo, eu digo que no primeiro morreu gente igual Game of Thrones, se vem chorar por isso pega seu leite com pêra e ovomaltine e vai chorar junto das viúvas de Game os Thrones seu nuttela, The Last sempre teve morte e violência, de gente boa e má, nossos personagens não são heróis, não são bons e nem justos, podem ate tentar mas falham, e a vida tem consequências, e essa continuação entrega tudo isso e um pouco mais.
Eu particularmente tenho uma reclamação que no geral vejo na maioria das histórias, a falta de conseqüência do tempo, ao lembrar que o cordseps originalmente ataca formigas que é um animal, é lógico pensar porque não infectar outros animais e aumentar o bestiário do jogo, tem poucas variações dos mesmos inimigos vistos no primeiro jogo, adicionaram o espreitador, um tipo de corretor que não aparece no modo escuta, e o trôpego que é um estágio abaixo do baiacu, um pouco mais rápido e que explode acido próximo do jogador, e pra piorar zero trabalho em cima do vírus, nada de outros imunes, nem outras pesquisas de cura.
Além dos infectados temos inimigos que são humanos, aqui distribuídos em dois grupos, os WLF também conhecidos como lobos, que Abby faz parte, e os serafitas/cicatrizes, que são fanáticos religiosos que lutam contra a WLF pelo controle de Seattle.
Tudo melhorou, a jogabilidade segue o que foi apresentado antes más com os devidos polimentos, saltar, pular por cima de obstáculos, passar por frestas, mover deitado, atirar deitado no ataque e no contra ataque, apertar R1 para trocar armas, usar o digital para selecionar armas e itens, e talvez a maior mudança seja usar o L1, que também corre, para esquivar, assim como Resident Evil 3 essa esquiva te deixa imune contra ataques inimigos.
Inimigos humanos usam a IA para te encurralar, te flanqueiam sempre procurando um ponto fraco, então espere desafio quando enfrentar mais que dois inimigos ao mesmo tempo, foram adicionados cachorros aos inimigos, que sempre andam acompanhados de seu dono, e quando soltos perseguem seu personagem pelo cheiro.
As linhas de evoluções estão de volta e maior, é possível encontra livros com novas linhas de habilidades, continuamos encontrando comprimidos que usamos para evoluir, da mesma forma que encontramos peças e mesas para modificar as armas. Infelizmente tivemos poucas mudanças aqui, tirando as animações de desmontagem e montagem das armas.
Os ambientes aumentaram em muito seus tamanhos, tanto em parte fechadas, quanto em locais abertos, dando ate uma falsa sensação de mundo aberto, uma nítida evolução se comparado ao anterior, os loads também estão menores, o primeiro load do primeiro jogo era bem grande, nesse novo tem, mas não chega a incomodar, e depois do inicial é tudo sem nenhum carregamento que incomode, inclusive quando se morre.
No inicio de Seattle se usa um mapa para exploração, ao melhor estilo Silent Hill, com anotações e tudo mais, infelizmente é o único lugar que se usa o mesmo, e senti falta em outros locais, poderiam ter explorado mais essa mecânica.
Os cavalos como transporte estão de volta, a parte do início de Seattle se passa toda acompanhado da Dina e da égua estrela, se bem que assim como em Zelda breath of the wild é melhor explorar a pé, pelo menos aqui se tem partes que só são acessíveis saltando de cavalo.
Barcos também é outro tipo de veículo usado pra passar as partes inundadas da cidade. Agora também podemos usar a grama alta para nos esconder, no melhor estilo Horizon zero dawn.
Os gráficos do jogo trabalham junto ao enredo, e as capturas de movimentos estão no seu ápice, as melhores capturas que vi em um jogo, conseguem passar todas as expressões dos personagens, digno de um filme da Pixar, a meu ver poderiam fácil concorrer a um Oscar, câmera sempre no ângulo certo, movimentação impecável, fotografia excelente, não deve nada a Hollywood, já fico ansioso pelo que pode vir com a série da HBO.
Uma das melhores ambientações já feitas, tudo muito bem encaixado, conseguimos acreditar que tudo esta abandonado faz décadas, tanto nos ambientes internos, com mofo, limo, musgo, trepadeiras cobrindo tudo que alcançam, quanto os externos com carros enferrujados, caminhos destruídos por erosão, cheio de vegetação cobrindo onde antes estavam cidades inteiras, rios passando pelo meio da cidade, os locais ocupados pelos sobreviventes são incríveis e nesse jogo conseguimos ver a proporção dos lugares, com áreas extremamente vastas, levamos tempo pra percorrer de um ponto ao outro, e vemos o quão detalhando é esse percurso.
O som também evoluiu, entregando ótimos diálogos tanto em cenas pré renderizadas quanto em jogo, destaque novamente para a impecável dublagem brasileira, passando emoções no momento certo sem forçação, e o mais importante usando os mesmos dubladores do primeiro jogo.
As musicas são fantásticas, desde a música tema rearranjada, quanto a versões de violão de A-ha, tocada pela Ellie, e Pearl jam tocado por Joel, a trilha sonora criada por Gustavo Santaolalla é incrível, e passa todo um clima de desolação, e as musicas nos momentos de tensão são ótimas pra te manter no clima, os sons dos inimigos estão no mesmo nível do jogo anterior que já era fantástico.
Mas como todos os jogos aqui também têm falhas, a pior pra mim é o jogo te empurrar pra frente e não te deixar voltar, isso pra um jogo de exploração é extremamente frustrante, na parte do hotel Serevena, por incrível que pareça, eu fui explorando e passei de um ponto sem volta duas vezes no mesmo local, fiquei sem explorar o local completamente, felizmente tem um modo de seleção de capítulos, que permite re-jogar partes específicas, ajudando também a platinar o jogo.
O jogo esta mais fácil, o primeiro era difícil, muitos inimigos tinham ataquem mortais, e isso incentivava o moto furtivo, nesse o modo furtivo é mais seguro, mas o modo Rambo é viável, ao mesmo tempo que o jogo se torna mais acessível, em contra parte se torna menos desafiador pra quem já tem experiência com o anterior.
O modo online foi deixado de lado, para focar somente no modo história que esta realmente maior, mas tirar um modo que agradou os fãs do primeiro é sim um ponto negativo.
O jogo proporciona uma aventura tensa, com muitas partes chocantes, que mantém o jogador preso a trama querendo ver o próximo passo, não senti em nenhum momento algo chato ou esticado pra render, pelo contrário, senti que em várias partes o numero de inimigos poderia ser maior, principalmente na parte final.
Uma obra de arte, que todo gamer deve apreciar, já adianto aqui, The Last of Us parte 2 é meu jogo do ano ate o momento, e acho difícil algum outro bater, alô Cyberpunk.
Analise com spoilers, leia a partir daqui por sua conta e risco!
Eu acompanhei os vazamentos e garanto que minha experiência foi prejudicada, se eu não soubesse do Joel, o impacto dessa cena seria absurdo, mesmo assim foi forte, e bem diferente do que muito reclamões, não achei isso ruim ou que tenha estragado o jogo, quer heróis invencíveis jogue Resident Evil, lá a Capcom não tem colhões pra matar seus personagens, aqui esteja preparado, como comentei antes, nossos personagens não são perfeitos nem heróis, passamos o primeiro jogo matando tudo que apresentasse perigo, e o arco final chegamos a matar muitos “inocentes”, e em cima dessa premissa que essa continuação trabalha, o médico que faria a cirurgia em Ellie, pra tentar descobrir a cura, era o pai de Abby, e eu lembro que passei por cima dele como um trator pra salvar a Ellie, e faria tudo novamente.
O Joel cair no colo da Abby no início do jogo, eu achei um trabalho preguiçoso da Naughty Dog, uma infiltração, ou pegar alguém das rondas para atraí-lo, ficaria bem menos conveniente.
Senti falta do governo, a Ellie e Dina comentam que os lobos conseguiram se livrar da Fedra, organização do governo, senti falta de tanques, soldados, toque de recolher.
Mais uma escolha confortável da Naughty Dog não evoluir o cordceps, o vírus vem de animais, mas não infecta animais, não faz nem sentido, iria abrir um leque de possibilidades, não aproveitar isso engessou os inimigos, que pouco evoluíram se baseados ao primeiro jogo, e fica pior se pensarmos em continuações, outros médicos pesquisando a cura também enriqueceriam a história, teria sido mais interessante que a guerra entre lobos e serafitas, ou no mínimo enriqueceria pras continuações.
Tive zero problema com inclusão, o primeiro já tinha, brancos, pretos, gay, lesbica, etc, esse só aumentou, chineses, mexicanos, trans, bi, cachorros, gatos, esquilos, etc, mulheres fortes, pretos lideres, como o caso do Isaac, interpretado por Jeffrey Wright o Bernard de Westworld, destaque pra Abby, que longe do que muitos acreditavam, é mulher, e que mulher, viu no treino uma forma de preparação enquanto procurava sua vingança, e virou monstrona que faz inveja em muito maromba por ai.
Personagens que te acompanham são o charme do jogo, no primeiro era Joel e Ellie e ponto, aqui temos Dina, Jesse, Lev, Yara, Many, e todos muito carismáticos e que enriquecem o jogo, em nenhum momento se tornam estorvos ou são chatos, inclusive, dando sugestões e ate abrindo portas ou acionando algo, não deixando tudo nas costas do jogador, isso é muito bom, sentimos que eles estão ali realmente pra ajudar, não só pra fazer volume, e ainda por cima conversam e interagem com o jogador nunca deixando o jogo monótono.
Não gostei da ordem das cenas, matar o Joel pra depois ficar mostrando flashbacks, matar o Owen e a Mel pra depois mostrar a Abby chegando, deixar a Abby encontrar eles no teatro pra depois mostrar como ela chegou, me lembrou a forma confusa da série The Witcher da Netflix, essa escolha de narrativa tirou o impacto de muitas cenas.
Tive a sensação que esse teve batalhas de boss melhores representadas, o primeiro se resumia em inimigos mais fortes ou em grades quantidades, aqui se tem batalhas memoráveis, como o baiacu no fliperama, Rei dos ratos a fusão gigante do hospital, Tommy de sniper, Ellie estrategista incrível, e as duas baralhas na “mão “ Abby VS Ellie, essas com uma carga dramática sem tamanho, a última pra mim foi uma das batalhas mais difíceis de todos os tempos, não em desafio que é ridículo, mas sim pelo emocional, eu não queria essa luta, a Abby chegou a levantar pois se demorar pra finalizar ela se ergue, eu vi todo o sofrimento das duas, joguei com ambas, entendi ambas, não quero perde nenhuma, ainda mais pelas minhas mãos.
Talvez se o jogo tivesse opções de escolha, melhoraria muito, conseguindo agradar a gregos e troianos e aumentando o fator replay. A proposta da Naughty Dog foi contar uma história de vingança, visceral, tensa, que deixasse os nervos a flor da pele, e isso ela conseguiu, a preço foi bem alto, mas é impossível não ver o capricho por detrás desse jogo, todos os cuidados em todas as partes o tornam mais um jogo obrigatório pra qualquer gamer, esse é disparato o mais forte candidato a GOTY de 2020!